terça-feira, 27 de setembro de 2011

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Bacia de águas, vozes e culturas

Segundo a Agência Nacional de Águas, a Bacia Amazônica é formada pela mais extensa rede hidrográfica do globo terrestre, abrangendo vários países da América do Sul: Brasil (63%), Peru (17%), Bolívia (11%), Colômbia (5,8%), Equador (2,2%), Venezuela (0,7%) e Guiana (0,2%). Com tanta abundância, é comum que os olhares do mundo se voltem para a grandiosidade dessa região continental. Mas e o homem amazônico?


A exuberância, a diversidade e a extensão das paisagens naturais não podem deixar de serem levadas em consideração quando o assunto é Amazônia. Mas a complexidade desse espaço só pode ser amplamente compreendida se reconhecermos também a importância do seu habitante. Afinal, como já afirmava Eidorfe Moreira, pesquisador da sócio-geografia da Amazônia, “Não é a natureza por si mesma, mas a condição humana em face dela, que cria verdadeiramente os problemas geográficos” (livro Obras reunidas de Eidorfe Moreira. Amazônia – o Conceito e a Paisagem. Belém: CEJUP, 1989).


Belém da Amazônia - E a Capital do Estado do Pará, Belém, é um dos retratos dessa paisagem diversa chamada Amazônia. Como todo centro urbano, enfrenta seus problemas, entre eles o de acesso a bens básicos como saúde e educação. Como centro urbano, também concentra uma “amostra” considerável de quem é o homem amazônico.


O Rio Guamá que banha a orla da Universidade Federal do Pará, janela para o mundo do conhecimento, é o mesmo que banha as ilhas na outra margem, onde muitos estudantes do ensino básico não têm acesso à água encanada, saneamento básico e dividem uma única sala de aula com alunos de múltiplas idades e séries.


Mais do que rostos e gostos diferenciados, Belém guarda amostras do que era ser moderno no início do século XX (período da Belle Époque), do que é ser moderno no século XXI e de um tradicional que permanece, em diálogo ou em conflito com a modernidade, mas que continua a existir.


E é nessa região onde, pela primeira vez, se realiza o Seminário Regional da ALAIC. E aí está o desafio para os que se dedicam a investigar a Comunicação: colocar em primeiro plano o ser humano – o ser criativo que comunica, interpreta, ressignifica, comunica novamente, interagindo sempre, mesmo que através de diferentes canais e em diferentes níveis de intensidade.


Amazônia, Comunicação e o homem - É a partir dessa reflexão em torno do homem (e, nesse caso, do homem amazônico, que pertence a um contexto maior, latino-americano) que se poderá refletir sobre as múltiplas vozes que, por sua vez, refletem múltiplas culturas.


Dessa forma, torna-se necessário levar em consideração que existe outra bacia – a semântica, para utilizar um conceito de Gilbert Durand –, tão elementar quanto à outra de conceito geográfico, porque abriga símbolos e é capaz de abrigar as culturas nas suas diversas formas.


Belém, em 2011, é só uma amostra. Mas é o primeiro passo. Outros passos deverão ser dados para se tentar dar conta de toda a Bacia Amazônica.



Texto: Élida Cristo

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